terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Grande Mãe do Candomblé - Parte 1


A mãe-de-santo Menininha do Gantois lutou contra preconceitos e contribuiu para a aceitação da religão que herdou de seus ancestrais. Hoje é lembrada como um grande líder espiritual.

Brincando de Candomblé. Era assim que Escolástica Maria da Conceição Nazaré, menina pobre da perfieria de Salvador, Bahia, ocupava suas horas livres na infância. Habilidosa e criativa, ela tinha um jeito todo especial de improvisar a diversão: reunia folhas de babaneira, espinhos de mandacaru, sementes e frutas e com elas ia dando forma a pequenos bonecos.

Depois de prontos, cada um recebia o nome de uma divindade do Candomblé. Havia Oxóssi, Ogum, Oxum e uma porção de outros orixás para a garota brincar.

O Candomblé também estava presente nos sonhos de Menininha, apelido que Escolástica recebeu da avó. Num deles, uma garotinha de pele clara e cabelo loiro perguntava: "Vamos brincar?". "Brincar de quê?", dizia ela. "De jogar búzios, Menininha!", era a resposta. E lá iam as duas brincar com os búzios na areia. Foram necessários muitos anos até que Menininha compreendesse o sentido daquele sonho.

"Só depois de adulta ela percebeu que aquilo era um sinal. Eram, acho, os orixás lhe mandando mensagens", diz a mãe-de-santo Carmem Oliveira da Silva, sua filha caçula. De fato, os sonhos e as brincadeiras de infância pareciam anunciar o destino de Menininha.

Nascida em 10 de fevereiro de 1894, em Salvador, ela pertencia a uma família devotada ao Candomblé. Sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, havia fundado, em meados do século 19 o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois (nome do antigo proprietário do terreno, que era francês). Sob a orientação da avó, das tias e da mãe, Menininha foi iniciada nos segredos da religião africana.

E sem que soubesse, passou a ser preparada para o cargo, que assumiria anos depois, de ialorixá (mãe-de-santo, na língua iorubá). A mãe-de-santo é a chefe da comunidade religiosa. A ela cabe o poder religioso e de todos os ritos do terreiro.

Alheia aos planos para seu futuro, Menininha completou o curso primário e logo tratou de aprender um ofício. Escolheu ser costureira e não demorou a arrumar emprego num ateliê de Salvador. Entre várias atividades que desempenhava, cabia a ela a difícil tarefa de confeccionar espartilhos. Aos 29 anos, casou com o advogado Álvaro Mcdowell de Oliveira, descendente de ingleses. Com ele teve duas filhas, Cleusa e Carmem.

Mas a vida da dona de casa, devotada ao marido e às filhas, logo passaria por uma grande transformação. com a morte de mãe Pulchéria, tia-avó de Menininha e segunda ialorixá a governar o terreiro do Gantois, a casa ficou sem uma líder. Os orixás, no entanto, se manifestaram e escolheram a próxima sacerdotisa: Menininha. Era uma grande responsabilidade. Afinal, no papel de mãe-de-santo, ela teria de administrar um dos terreiros mais antigos de Salvador, formar filhos-de-santo e ser a líder espiritual de centenas de pessoas ligadas à casa de Candomblé.

Em 1924, prestes a completar 30 anos, Menininha tomou a decisão que mudou sua vida, assumindo a lidrança do terreiro funddo por sua família. Mudou-se para o Gantois junto com o marido e a primeira das duas filhas. E deste então, passou a ser conhecida como Mãe Menininha do Gantois, a ialorixá mais famosa e respeitada do País.



Tempos Difíceis

Na época em que a Mãe Menininha se tornou ialorixá, os tempos não eram fáceis para os adeptos do Candomblé. além do preconceito, os filhos e mães-de-santo sofriam muitas perseguições e violência. Não havia liberdade de culto. As casas eram perseguidas e invadidas pela polícia.

Na décda de 30, a Lei de Jogos e Costumes esboçou um certa tolerância ao culto aos orixás. As festas só poderiam ser realizadas em determinados horários e mediante uma autorização por escrito. Isso, no entanto, não impedia que os policiais invadissem os terreiros, espalhando violência e terror. Eles estravam a cavalo e munidos de sabres. Furavam os atabaques e quebravam tudo o que encontravam pelo caminho.

Os anos de opressão só terminaram em 1976, quando o então governador da Bahia, Roberto Santos, sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da obtenção de licença e do pagamento de taxas à delegacia de Jogos e Costumes. Até esse período, porém, não há rgistros de que o Gantois tenha sido alvo das batidas policiais,  tampouco de violências e agressões.

Mãe Menininha teve grande capacidade de atrair para o terreiro a simpatia de muitas pessoas importantes da Bahia, que protegeram o terreiro de certas investidas da polícia e de outros perseguidores.

A ialorixá, porém enfrentou outra forma de preconceito. quando assiumiu a liderança do terreiro, aos 29 anos, sua juventude não foi vista com bons olhos pelos adptos mais antigos do Candomblé. "Os velhos africanos sempre diziam que uma sacerdotiza deve ser tão velha que não possa lembrar-se das paixões da juventude", afirmou Mãe Menininha, em depoimento à antrópologa Ruth Landes no livro Cidade das Mulheres. "Bom, as coisas estão mudando, degenerando, não há mulheres idosas aptas para o nosso trabalho."

Apesar da pouca idade, Mãe Meninha mostrou-se apta para a função de sacerdotisa. Conseguiu impor-se com sabedoria, graças à força de sua personalidade. Ela era uma mulher carismática, eloquente e com uma personalidade fortíssima. Com esses requisitos, a mãe-de-santo não demorou a impressioar adeptos e não adeptos do Candomblé, atraindo cada vez mais pessoas ao terreiro do Gantois, claro que par aalguém ter esse poder de atração, precisa ser muito inteligente, uma intelectual de primeira.


Continua...

0 comentários:

Postar um comentário

Aranel Ithil Dior. Tecnologia do Blogger.

Search This Blog